domingo, 12 de abril de 2009

Troca do dólar por nova moeda mundial é 'tendência', avaliam analistas

Nova divisa para as reservas internacionais foi proposta pela China.
Lula apoiou a ideia e disse que o Brasil não pode depender só do dólar.

A proposta feita pela China na semana passada de trocar o dólar por uma nova moeda como principal componente das reservas mundiais – dinheiro usado por cada país para fazer comércio com as demais nações e estabilizar sua economia – é possível e deverá ser uma tendência na economia mundial, na opinião de economistas ouvidos pelo G1.
“A troca é altamente viável porque minimiza o risco cambial entre os países. Com essa moeda, a chance de crises como a da Rússia ou dos “Tigres” asiáticos, no final dos anos 1990, seria muito menor”, afirma Otto Nogami, economista da escola de negócios Ibmec São Paulo.
“A tendência é que essa substituição aconteça porque há uma crescente preocupação com a desvalorização do dólar, conforme caminha a perda de hegemonia americana. O medo é que o governo americano desvalorize demais”, concorda Alcides Leite, professor de mercado financeiro da Trevisan Escola de Negócios.
Segundo ele, “essa crise está reforçando o fim da hegemonia total os EUA, e estamos caminhando cada vez mais para um mundo multilateral". "A moeda mais utilizada como moeda de troca global tende a seguir esse movimento de abertura. Talvez essa proposta já possa ser colocada em prática nos próximos anos."
A substituição do dólar por uma nova moeda que seria emitida pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) foi proposta na semana passada pelo presidente do Banco Central chinês, Zhu Xiaochuan, em texto publicado no site da instituição. "A crise econômica que abalou o mundo evidencia as vulnerabilidades inerentes e os riscos sistêmicos no sistema monetário internacional", declarou.
Segundo Otto Nogami, a proposta da China surgiu a partir do perigo de desvalorização do dólar – moeda que constitui a maior parte das reservas do país, de quase US$ 2 trilhões.
“A partir do momento em que você está atrelado em grande parte a uma única moeda, está sempre sujeito ao perigo de uma desvalorização. Se os EUA quebrarem, como fica a China? Totalmente vendida”, questiona.

Dependência

A adoção de uma nova divisa também já foi defendida por alguns pesos-pesados como o ganhador do Prêmio Nobel de economia, Joseph Stiglitz. “O sistema baseado em dólares é parte do problema”, disse ele em palestra na China na semana passada. “Nós precisamos de um sistema global de reservas."
O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva também manifestou suporte à proposta. "Me interesa que tenhamos mais de uma moeda de referência e que não continuemos dependendo apenas do dólar", afirmou Lula durante sua participação no encontro de cúpula do G20, em Londres, na última semana.
Lula também propôs ao presidente chinês Hu Jintao que as trocas comerciais entre os dois países passem a ser feitas tanto na moeda brasileira quanto na chinesa, a exemplo do que já acontece entre a China e a Argentina.

Consequências

Para os economistas, caso a troca de moedas fosse feita, os países emergentes – como o Brasil – sairiam ganhando.
“Para os emergentes, seria positivo. O Brasil poderia ter uma capacidade de financiamento maior a um custo menor, o que poderia aumentar o desenvolvimento econômico. As empresas e o setor público poderiam emitir títulos nessa nova moeda com aceitação mundial porque o Brasil obrigatoriamente teria participação importante nesse BC global”, afirma Leite, da Trevisan Escola de Negócios.
Já os EUA seriam os principais prejudicados. “Eles perderiam a capacidade de financiamento. Os EUA têm a vantagem de imprimir a moeda de referência. Todo o crescimento do consumo lá foi financiado pelos países emergentes, que exportam para os EUA. Na medida que a moeda mude, eles precisariam fazer o que os demais países fazem: equilibrar sua conta fiscal”, projeta o professor.
Outro problema é que a troca poderia gerar inflação nos EUA. “Existe um excesso de liquidez de dólares no mercado. A medida que se fizesse essa transação, o dólar começaria a sobrar, voltaria ao país de origem e provavelmente geraria uma inflação interna”, diz Nogami, do Ibmec.
Levando em conta essas desvantagens, os EUA não iriam querer bloquear o processo? Para Leite, é “claro que eles EUA vão lutar contra isso", embora o país não possa unilateralmente forçar sua vontade. "Eles têm que levar em conta o que outros parceiros relevantes, como a China e os emergentes, pensam. Esse é um processo inexorável."
http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios

Acadêmico: Ronei Cazzarotto

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